Sobre estudos de clonalidade de células T, salvo melhor juízo.

Uma tentativa de ser avaliar se determinada população T é clonal ou não é feita através da análise da “monoclonalidade” do receptor da célula T (TCR). São, basicamente, dois tipos de teste: (a) Análise por Southern blot no locus BETA do receptor da célula T (TCRß) ou PCR do locus GAMMA (TCRγ). O PCR do locus γ é atualmente o mais usado, embora questões para sua padronização ainda existam e são sede de dúvidas diagnósticas sobretudo no estudo de infiltrados de células T cutâneo.

O TCRγ possui vários segmentos que são nomeados em 4 famílias de acordo com a ordem de disposição genômica e os seus segmentos. Dentre estes segmentos, o V e J são os mais usados porque podem ser estudados com um número limitados de “primers”. Isso se deve a porções repetitivas da seqüência gênica. Outra razão para uso desse segmento é que o TCRγ se mantem na diferenciação da célula γδ para a célula com o TCR αβ

Escolhido o primer a ser utilizado para ampliação da seqüência através da reação em cadeia da polimerase, passa-se à escolha do método de detecção dos fragmentos ampliados pela PCR, que podem ser: (a) por gradiente de desnaturação no gel de eletroforese (DGGE), o método mais antigo; (b) por SSCP (polimorfismo de conformação single-strand - “single-strand conformation polimorfism”); (c) por análise heteroduplex (HDA); (d) por fluorescência (“fluorescente gene scaning” - GS) e pelo chamado (e) “cloning and sequency”.  Recentemente vem sendo cada vez mais usada a (e) análise de oligonucleotídeos por microchip. Ou seja, a pesquisa de clonalidade de células T também pode variar conforme a técnica utilizada para detecção dos fragmentos ampliados pela PCR. Por exemplo, o DGGE terá variações de acurácia a depender da conformação final dos ácidos nucleicos conseguida no tubo de teste, enquanto que o método GS vem sendo muito estudado e apontado como de maior especificidade para estudo dos infiltrados T cutâneos.

É importante que se entenda, portanto, que é dentro desse universo de sensibilidade / especificidade; valor preditivo positivo / valor preditivo negativo dos testes genéticos que nascem terminologias como “heterogeneidade clonal” e “pseudo-monoclonalidade” (e não dentro dos conceitos clássicos de diferenciação e proliferação celular, salvo melhor juízo). Seguem os conceitos relativos aos testes que com freqüência aparecem nos textos relacionados:

heterogeneidade clonal: Descreve a coexistência de 2 clones diferentes de células T na mesma amostra e pode refletir uma mistura de células T neoplásicas e inflamatórias (não-neoplásicas). Distinguir heterogeneidade clonal da possibilidade de múltiplas amostras do mesmo paciente mostrando clonalidades diferentes (possível num linfoma T, por ex.) pode ser importante porque tem sido proposto que a homogeneidade clonal (mesmo clone tumoral em mais de uma amostra) tem sido reputado como fator de pior prognóstico.

pseudomonoclonalidade: Processos inflamatórios (não-neoplásicos) frequentemente mostram pseudomonoclonalidade. Esta se caracteriza pela dominância de um produto amplificado pela PCR (amplicon) em uma mostra distinta. Este produto irá variar em amostras diferentes e, portanto, esse viés de análise pode ser evitado com a repetição do teste em amostras diversas.

Além das dificuldades técnicas acima indicadas, há que se considerar que alguns tipos de linfoma podem se apresentar como “armadilhas moleculares”. Tratam-se dos (a) linfomas com perda da expressão do TCR, (b) linfomas NK e (c) linfomas B rico em células T. A negatividade da pesquisa de clonalidade T pelo PCR é "negativa" nestes casos não porque não há a dita clonalidade tumoral mas porque o tumor não apresenta a molécula na qual os testes são feitos.



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